quinta-feira, novembro 15, 2012

Oportunidade Teimosamente Perdida!!!



O desemprego continua a crescer e a destruir a esperança de milhares de famílias portuguesas num futuro melhor.

São já centenas de milhares os portugueses que estão desprotegidos, sem qualquer apoio social.

O número de jovens que lutam por uma vida melhor fora do seu país e longe das suas famílias não pára de crescer.

Os milhares de pequenos empresários que perdem o seu negócio de décadas revoltam-se perante a injustiça de aumentos de impostos cegos e sem sentido.

O espírito de comunidade é corroído pelo medo que se instala, fruto de políticas insensíveis que despertam um individualismo de sobrevivência.

Esta é uma realidade que passa ao lado do Primeiro-ministro. Nos centros de decisão europeus, Passos Coelho remete-se ao silêncio. Em Portugal não ouve os portugueses. O Primeiro-ministro não compreende que vivemos uma situação social e económica insustentável.

O país precisa de estar unido para sair da crise. Os Governos devem mobilizar e representar essa unidade. Há hoje um consenso político e social que atravessa todos os sectores da sociedade portuguesa, que vai da esquerda à direita.

Há um consenso sobre o que não deve ser feito: a estratégia de austeridade a todo o custo que está a destruir a economia sem atingir as metas orçamentais apontadas pelo próprio Governo e agravando ainda mais o problema da dívida pública.

Mas há também um consenso em torno do que deve ser feito e em consonância com aquilo que o PS defende há mais de um ano:

·                                 Portugal precisa de mais tempo para consolidar as contas públicas, mantendo uma trajetória consistente e credível que permita atingir os compromissos assumidos internacionalmente e respeitando o objetivo de um défice de 3%;
·                                 Portugal precisa de mais tempo para pagarmos as nossas dívidas;
·                                 Portugal precisa de beneficiar de juros mais baixos sobre o empréstimo decorrente do Programa de Assistência Económica e Financeira;
·                                 Portugal precisa que o Banco Central Europeu prossiga e reforce a sua intervenção por forma a baixar os juros permitindo o regresso tranquilo de Portugal aos mercados;
·                                 Portugal precisa de ter voz na Europa (junto da Comissão Europeia, junto do Banco Central Europeu e no Conselho Europeu) e perante um Fundo Monetário Internacional que parece cada vez mais desperto para a realidade;
·                                 As políticas de austeridade têm um limite que não pode ser ultrapassado sob pena de rutura da coesão social do país; a consolidação das contas públicas deve ser acompanhada de uma prioridade política centrada no crescimento económico e na criação de emprego. Não há consolidação de contas públicas sem crescimento económico.

Este é o consenso mais alargado (e prioritário) que a sociedade portuguesa conhece nos dias de hoje.

Este é o consenso que mais mobiliza os portugueses para sair desta crise.

Este é o consenso que assegura uma verdadeira concertação social.

Este é o único consenso nacional em cima da mesa.

Nenhum Governo pode ignorar esse consenso.

Lamentavelmente, o Primeiro-Ministro ignora este consenso. É o único dirigente partidário que rompe com este consenso. Está teimosamente isolado. Já nem pelo CDS é acompanhado.

O Primeiro-ministro só assegura uma correta representação do povo português no plano europeu e nas reuniões que tem com os seus homólogos se souber protagonizar este consenso. Caso contrário, representa-se apenas a si próprio, isolado, no clube restrito dos conservadores alemães cujo lema é a “austeridade custe o que custar” para uma sociedade do “cada um por si”.

Hoje, Pedro Passos Coelho, ao receber a Chancelarina alemã, perde uma excelente oportunidade de lhe transmitir que Portugal está coeso e com forte determinação em cumprir os seus objetivos mas que, para isso, precisa de políticas de crescimento e não da austeridade do custe o que custar.

Era esta a mensagem que o Primeiro-Ministro de Portugal devia transmitir.

Só não o faz por culpa própria. Por teimosia e total insensibilidade social.

Chegou a hora de mudar de rumo. O Governo tem que mudar de rumo.

Só com uma mudança real de política travaremos o declínio da solidariedade entre gerações, impediremos o aumento das desigualdades sociais, impediremos o empobrecimento do país, combateremos o alheamento político dos cidadãos e recuperaremos a confiança indispensável para vencermos a crise.

As prioridades do Primeiro-ministro de Portugal e da Chancelarina alemã estão erradas.

Um Primeiro-ministro de Portugal deve lutar por uma Europa que não se esgote na entrega das pessoas à concorrência, à competição e ao cada um por si.

Um Primeiro-ministro de Portugal deve dizer à Chancelarina alemã que está errada na sua política e que está errada quando diz que a Europa é uma mera combinação de tecnologia, talento e transparência. A Europa é muito mais do que isso.

Um Primeiro-Ministro deve dizer à Chancelarina Merkel que não aguentamos mais austeridade e que está errada a sua receita de mais cinco anos de austeridade.

Um Primeiro-ministro de Portugal deve dizer ao Primeiro-ministro britânico que a Europa não é apenas “mercado único, mercado único, mercado único” e que um veto ao orçamento europeu seria uma irresponsabilidade.

Um Primeiro-ministro de Portugal deve dizer ao Presidente da Comissão Europeia que atingir défices nominais não pode ser um objetivo civilizacional, muito menos um objetivo da grandiosa civilização europeia.

Um Primeiro-ministro de Portugal deve chegar ao fim do seu mandato e ser capaz de dizer: “Não me calei, nunca baixei os braços e fui a voz dos portugueses. Fiz o possível”.

O atual Primeiro-ministro está muito, mas mesmo muito longe de ter feito tudo o que é possível para salvar Portugal.

António José Seguro

Sem comentários: