O desemprego
continua a crescer e a destruir a esperança de milhares de famílias portuguesas
num futuro melhor.
São já centenas de
milhares os portugueses que estão desprotegidos, sem qualquer apoio social.
O número de jovens
que lutam por uma vida melhor fora do seu país e longe das suas famílias não
pára de crescer.
Os milhares de
pequenos empresários que perdem o seu negócio de décadas revoltam-se perante a
injustiça de aumentos de impostos cegos e sem sentido.
O espírito de
comunidade é corroído pelo medo que se instala, fruto de políticas insensíveis
que despertam um individualismo de sobrevivência.
Esta é uma realidade
que passa ao lado do Primeiro-ministro. Nos centros de decisão europeus, Passos
Coelho remete-se ao silêncio. Em Portugal não ouve os portugueses. O
Primeiro-ministro não compreende que vivemos uma situação social e económica
insustentável.
O país precisa de
estar unido para sair da crise. Os Governos devem mobilizar e representar essa
unidade. Há hoje um consenso político e social que atravessa todos os sectores
da sociedade portuguesa, que vai da esquerda à direita.
Há um consenso
sobre o que não deve ser feito: a estratégia de austeridade a todo o custo que
está a destruir a economia sem atingir as metas orçamentais apontadas pelo
próprio Governo e agravando ainda mais o problema da dívida pública.
Mas há também um
consenso em torno do que deve ser feito e em consonância com aquilo que o PS
defende há mais de um ano:
·
Portugal precisa de mais tempo para consolidar as contas
públicas, mantendo uma trajetória consistente e credível que permita atingir os
compromissos assumidos internacionalmente e respeitando o objetivo de um défice
de 3%;
·
Portugal precisa de mais tempo para pagarmos as nossas
dívidas;
·
Portugal precisa de beneficiar de juros mais baixos sobre o
empréstimo decorrente do Programa de Assistência Económica e Financeira;
·
Portugal precisa que o Banco Central Europeu prossiga e
reforce a sua intervenção por forma a baixar os juros permitindo o regresso
tranquilo de Portugal aos mercados;
·
Portugal precisa de ter voz na Europa (junto da Comissão
Europeia, junto do Banco Central Europeu e no Conselho Europeu) e perante um
Fundo Monetário Internacional que parece cada vez mais desperto para a
realidade;
·
As políticas de austeridade têm um limite que não pode ser
ultrapassado sob pena de rutura da coesão social do país; a consolidação das
contas públicas deve ser acompanhada de uma prioridade política centrada no
crescimento económico e na criação de emprego. Não há consolidação de contas
públicas sem crescimento económico.
Este é o consenso
mais alargado (e prioritário) que a sociedade portuguesa conhece nos dias de
hoje.
Este é o consenso
que mais mobiliza os portugueses para sair desta crise.
Este é o consenso
que assegura uma verdadeira concertação social.
Este é o único
consenso nacional em cima da mesa.
Nenhum Governo pode
ignorar esse consenso.
Lamentavelmente, o
Primeiro-Ministro ignora este consenso. É o único dirigente partidário que
rompe com este consenso. Está teimosamente isolado. Já nem pelo CDS é
acompanhado.
O Primeiro-ministro
só assegura uma correta representação do povo português no plano europeu e nas
reuniões que tem com os seus homólogos se souber protagonizar este consenso.
Caso contrário, representa-se apenas a si próprio, isolado, no clube restrito
dos conservadores alemães cujo lema é a “austeridade custe o que custar” para uma
sociedade do “cada um por si”.
Hoje, Pedro Passos
Coelho, ao receber a Chancelarina alemã, perde uma excelente oportunidade de
lhe transmitir que Portugal está coeso e com forte determinação em cumprir os
seus objetivos mas que, para isso, precisa de políticas de crescimento e não da
austeridade do custe o que custar.
Era esta a mensagem
que o Primeiro-Ministro de Portugal devia transmitir.
Só não o faz por
culpa própria. Por teimosia e total insensibilidade social.
Chegou a hora de
mudar de rumo. O Governo tem que mudar de rumo.
Só com uma mudança
real de política travaremos o declínio da solidariedade entre gerações,
impediremos o aumento das desigualdades sociais, impediremos o empobrecimento
do país, combateremos o alheamento político dos cidadãos e recuperaremos a
confiança indispensável para vencermos a crise.
As prioridades do
Primeiro-ministro de Portugal e da Chancelarina alemã estão erradas.
Um
Primeiro-ministro de Portugal deve lutar por uma Europa que não se esgote na
entrega das pessoas à concorrência, à competição e ao cada um por si.
Um
Primeiro-ministro de Portugal deve dizer à Chancelarina alemã que está errada
na sua política e que está errada quando diz que a Europa é uma mera combinação
de tecnologia, talento e transparência. A Europa é muito mais do que isso.
Um
Primeiro-Ministro deve dizer à Chancelarina Merkel que não aguentamos mais
austeridade e que está errada a sua receita de mais cinco anos de austeridade.
Um
Primeiro-ministro de Portugal deve dizer ao Primeiro-ministro britânico que a
Europa não é apenas “mercado único, mercado único, mercado único” e que um veto
ao orçamento europeu seria uma irresponsabilidade.
Um
Primeiro-ministro de Portugal deve dizer ao Presidente da Comissão
Europeia que atingir défices nominais não pode ser um objetivo civilizacional,
muito menos um objetivo da grandiosa civilização europeia.
Um
Primeiro-ministro de Portugal deve chegar ao fim do seu mandato e ser capaz de
dizer: “Não me calei, nunca baixei os braços e fui a voz dos portugueses. Fiz o
possível”.
O atual
Primeiro-ministro está muito, mas mesmo muito longe de ter feito tudo o que é
possível para salvar Portugal.
António José Seguro